14/01/1025

Dialogando com o horizonte teórico que Ernst Cassirer [1874-1945] desnuda através do simbólico que, precedendo e excedendo a razão, se impõe como fundamento da condição de um ser cuja vivência não emerge senão sob a perspectiva da relação [fala e trabalho], a referida investigação dialoga com uma metodologia baseada em uma pesquisa bibliográfica que traz como temática a relação envolvendo Mythos e Logos e tem como paradigma um referencial teórico-analítico que corresponde ao princípio da hermenêutica instauradora (Ernst Cassirer, Mircea Eliade e Paul Ricoeur) e implica a abordagem fenomenológica (Martin Heidegger e Maurice Merleau-Ponty), guardando raízes na esfera hermenêutica fenomenológico-existencial (Eudoro de Sousa e Fernando Bastos), tendo em vista a estruturalidade vital e a dialética trans e intra-histórica que abrange a inter-relação que encerra a linguagem, o mito, a religião, a arte, a ciência e a história como formas simbólicas que caracterizam a “realidade” em sua formação individual e coletiva e possibilitam a autoconstituição humana.
Nesta perspectiva, o Capítulo 1 [Do intellectus ectypus e o animal symbolicum entre a realidade e a possibilidade em Cassirer] acena com a prerrogativa humana de estabelecer a distinção entre realidade e possibilidade, que emerge através do desenvolvimento cultural, que se impõe à inter-relação que envolve as necessidades orgânicas ou básicas do homem e da raça e a construção de um novo ambiente, secundário ou artificial, que perfaz um conjunto de práticas, teorias, instituições, valores materiais e espirituais, enfim, um sistema de símbolos, em suma, produzido na construção da existência, instituindo modos de viver e pensar, condutas, comportamentos, que, afinal, inaugura a “lógica da expressão”, para cujo horizonte convergem a percepção, a linguagem e o trabalho, caracterizando “a estrutura simbólica” da ordem humana.
À questão que envolve o pensamento mítico, a investigação em questão, no Capítulo 2 [Do pensamento e da linguagem mítico-poética enquanto condição originária da humanidade], transpondo o âmbito temático que se esgota através da análise da imaginação mítica e do pensamento religioso, se detém na leitura da sua forma, que remete, pois, à atividade simbólica, segundo Cassirer, que propõe que a sua interpretação não pode ignorar a diferença que carrega o modo de percepção característico do mito, que emerge como a “linguagem de transcendência do sensível”, segundo Eudoro de Sousa [1911-1987].
Se a linguagem, o mito, a religião, a arte, a ciência e a história se inter-relacionam na constitutividade humana, a definição de sua natureza ou “essência” guarda correspondência com o pressuposto que converge para o caráter funcional, eis a referência da investigação em questão no Capítulo 3 [Do homo mythologicus e a correlação epistêmico-cognitiva envolvendo mythos e lógos], cuja perspectiva, abordando o mito como uma interpretação simbólica da realidade, converge para assinalar que não é senão a sociedade que emerge como “verdadeiro modelo do mito”.
Se mythos e lógos remetem à leitura que envolve, respectivamente, “narrativa sagrada” e “discurso regrado”, perspectiva que carrega a pretensão de desnudar os liames de interdependência que as relações que mantêm guardam, à medida que dialoga com a interpretação tautegórica [Claude Lévi-Strauss] e converge para a interpretação simbólica ou metafórica [Paul Ricoeur], a investigação aborda os três horizontes que, inter-relacionados, se impõem à unidade do mesmo sujeito, a saber, empírico, racional, teórico, sublinhando, no Capítulo 4 [Do homo poeticus e a linguagem simbólica entre mythos e tá metà tá physiká], a condição que determina a relação que circunscreve, desde os primórdios da cultura humana, a possessão da faculdade da fala e a função de fazer mitos, a linguagem e o mito.

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