Diretoria da Anpof se manifesta sobre edição 2023 do Prêmio CAPES de Tese

03/08/2023 • Notas e Comunicados

Com espanto, a Diretoria da Associação Nacional de Pós -Graduação em Filosofia (Anpof) recebe o retorno do Instituto Serrapilheira na edição 2023 do Prêmio CAPES Tese. A alteração no Edital nº 2/2023 foi publicada na edição desta terça-feira, 1º de agosto, do Diário Oficial da União. Ausente nos últimos dois anos, a entidade distribuirá dois prêmios de R$20 mil, um para o trabalho vencedor do Grande Prêmio CAPES de Tese do Colégio de Ciências da Vida e outro para o ganhador de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar.

Com o reforço, três instituições parceiras vão distribuir premiações adicionais. Além do Serrapilheira, a Fundação Carlos Chagas dará R$25 mil aos autores das teses vencedoras nas áreas de Educação e Ensino e quatro menções honrosas no valor de R$10 mil, duas em cada uma dessas áreas. A Dimensions Sciences repassará US$2 mil a uma autora na área de Biotecnologia cujo trabalho tenha relação com inovação e empreendedorismo.

Por mais que congratulemos os Colégios contemplados, assim como as ações do Instituto Serrapilheira, da Fundação Carlos Chagas e da Dimensions Sciences; nós, representando a pesquisa em Filosofia no Brasil e a pesquisa filosófica brasileira no Mundo, estranhamos a ausência das Humanidades. É importante frisar que a exclusão das Humanidades indica uma determinada forma de agir político, forma esta que nos causa estranheza. Afinal, a política é, em tese, uma área que nasce das Humanidades, um espaço do pensamento humano que reflete as relações sociais, econômicas, culturais, regionais, educacionais, historiográficas, geográficas, fenomênicas e, obviamente, filosóficas. Tais temas são fundamentais para a pesquisa, tornando-se uma incoerência científica e política não estarem contemplados nesta edição.

Em um país que, após um período negacionista, alertar para a importância das ciências, da cultura e do pensamento reflexivo, não poder, em hipótese alguma, excluir qualquer forma de conhecimento; em especial aquele que demanda um caráter reflexivo extremo, um caráter abarcador de vivências outras para além das áreas de exatas e de saúde. Portanto, é fundamental refletir sobre este prêmio e as razões pelas quais se exclui as Humanidades e, quiçá, reverter esse quadro.

Partindo do princípio que as Humanidades deram a forma para as ciências exatas e da saúde, bem como, que o pensamento filosófico, artístico e cultural, para além da Europa, remonta há mais de três mil anos — incluindo aqui o que hoje é Ásia e África —, a exclusão das Humanidades, como já fora muito recentemente visto neste país, aponta para uma situação complexa na política nacional.

Confiamos que a CAPES, diante de sua responsabilidade para com a Pesquisa no Brasil, não apenas oriente suas premiações por princípios paritários, justos e redistributivos; mas, antes, tenha como norte a importância de todos os saberes e o aspecto político, social e educativo da exclusão de qualquer um deles.