Expansão da pós-graduação é destaque na abertura do XVII Encontro Nacional da ANPOF
19/10/2016 • XVII Encontro Nacional da ANPOF
Foto: Roberta Santana
A cerimônia de abertura do XVII Encontro Nacional de Filosofia da ANPOF (Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia) reuniu pesquisadores de todo o país no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju, no dia 17 de outubro. O encontro é o maior da área na América Latina e acontece pela terceira vez no Nordeste. As edições anteriores na região ocorreram em Salvador nos anos de 2004 e 2006. Ao todo, a organização aguarda mais de 2.500 pessoas nos cinco dias do evento.
O grupo de música medieval Renantique foi o responsável por recepcionar a comunidade filosófica. Logo após, o coordenador da comissão local, o professor Antônio Carlos dos Santos, realizou uma leitura do Canto IX da Odisseia. Antônio Carlos desejou boas-vindas aos congressistas e reforçou a participação tanto nas atividades acadêmicas na Cidade Universitária quanto nas atividades culturais que ocorrem em Aracaju. O encontro, disse ele, permite aos alunos e professores sergipanos dialogar com grandes pensadores do país e conviver com bibliografias vivas.
Antônio Carlos participou da mesa de abertura com o presidente da ANPOF, Marcelo Carvalho, o vice-reitor da Universidade Federal De Sergipe (UFS), André Maurício Conceição, o reitor da Universidade Federal Da Bahia (UFBA) e presidente da Sociedade Interamericana de Filosofia, João Carlos Salles, o coordenador de Filosofia da Capes, Vinícius Figueiredo, o presidente da Sociedade Portuguesa de Filosofia, João Cardoso, e a deputada estadual Ana Lúcia Menezes.
As falas da maioria dos convidados da mesa refletiram sobre debates em voga no país, como exclusão da Filosofia do currículo do Ensino Médio, participação das mulheres docentes nas pós-graduações e cortes na Educação. Os cortes dos recursos iniciados em 2015 interrompem um período de expansão do investimento na pesquisa e de crescimento da universidade pública que durou mais de uma década, destacou o presidente da Anpof, Marcelo Carvalho.
Em 1999, havia 18 mestrados e 8 doutorados em Filosofia no Brasil. Todos os programas de doutorado naquela época se concentravam no Sul e Sudeste. O primeiro fora dessas regiões foi resultado de um projeto em conjunto da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Federal da Paraíba (UFPR) entre os anos de 2005 e 2006.
Para o presidente da ANPOF, o Nordeste possui estrutura qualificada para manutenção dos cursos e a expansão nunca foi feita em detrimento da qualidade. Pessoas que não tinham condições de acessar a universidade passam a ter condições. Isso é uma transformação social. O acesso de grupos econômicos desprivilegiados, diz ele, permite à universidade cumprir o papel de diálogo e integração com outros segmentos que representam a sociedade. Hoje, o país possui 48 programas de mestrado e doutorado.
O presidente ainda intitulou o projeto de Medida Provisório do Governo Federal que exclui Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física do ensino médio de pseudorreforma porque não é debatida com os alunos e a comunidade. Para Marcelo, mobilizações de estudantes do ensino médio podem mudar a forma como políticas públicas para a Educação são feitas e vão de encontro a medidas e discursos autoritários porque exigem o diálogo. Essa é a grande novidade no debate sobre educação que a gente tem hoje: o surgimento de um discurso, extremamente, interessante, no contexto da escola secundarista e se apresenta com contundência ao Estado.
Congressistas se preparam para GTs e STs
Os congressistas que vêm para o XVII Encontro Nacional da ANPOF podem participar das Conferências, Grupos de Trabalho (GT), Sessões Temáticas (ST) e entre outras atividades culturais. O coordenador da Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Ceará, Hugo Filgueiras, vai se apresentar no GT de Filosofia Antiga na quarta-feira, dia 19. Ele espera que o encontro fomente a discussão filosófica, o encontro, a troca de experiências dentro da comunidade científica e que a gente possa mostrar que o Brasil e a Pós-Graduação têm essa efervescência filosófica de pesquisa, interação e comunhão de pensamento, apesar do momento crítico que o país está vivendo.
O doutorando em Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Pedro Grabois acredita que o retorno do encontro à região Nordeste é fruto de reivindicações e expansão dos cursos. Pedro participa do GT de Filosofia Contemporânea de Expressão Francesa na terça-feira, dia 18. Na ocasião, ele apresenta alguns resultados da pesquisa que desenvolve no doutorado sobre racismo no período colonial no Brasil. O filósofo francês Michel Foucault é a principal referência do projeto de pesquisa do carioca para pensar as formas como o racismo se manifesta nas instituições.
Pedro veio com a professora do Colégio Pedro II e também doutoranda em Filosofia na UERJ, Aline Carmo, e a doutora em Filosofia pela mesma universidade Rebeca Furtado. Aline participa do GT Teorias da Justiça na terça-feira, no dia 18. A pesquisa da professora, Descolonização e justiça: fundamentos para a educação e políticas da interculturalidade, reflete sobre a exclusão do conhecimento produzido por grupos marginalizados e minorias políticas, como população negra, mulheres e índios, sofrem no judiciário.
Já Rebeca Furtado participa da ST Fenomenologia e Hermenêutica. Ela pesquisa a tradição Hermenêutica com autores alemães do século XVIII ao XX para pensar como aspectos espaciais são negligenciados na área. De acordo com a doutora, uma análise com base na Hermenêutica serve para contextualizar períodos históricos diversos.
Por Matheus Brito e Gustavo Monteiro (Monitor de Comunicação da ANPOF)
Profa. Dra. Michele Amorim Becker (Coordenadora da Monitoria de Comunicação da ANPOF)