Natureza e liberdade em Ludwig Feuerbach

Ano 12 nº 24 2020 • Argumentos: Revista de Filosofia (UFC)

Autor: Eduardo Ferreira Chagas

Resumo:

O artigo pretende destacar a tese de que a natureza para Feuerbach é um existente autônomo e independente, possui primazia ante o espírito e que ela é a base material da liberdade humana. Para ele, a natureza material, que existe, em sua diferencialidade qualitativa, independente do pensar, é diante ao espírito o original, o fundamento não deduzível, imediato, não criado de toda existência real, que existe e consiste por si mesmo. Feuerbach opõe a natureza ao espírito, pois ele a entende não como um puro outro, que só por meio do espírito foi posto como natureza, mas, como o primeiro, a realidade objetiva, material, que existe fora do entendimento e é dada ao homem por meio de seus sentidos como fundamento e essência de sua vida. Trata-se aqui também de uma exposição da ética materialista, a posteriorística, de Ludwig Feuerbach a partir de sua crítica a toda ética apriorística, transcendental, ilimitada, indiferente, imediata, pura, vazia de conteúdo, abstraída das determinações, da situação concreta, baseada numa liberdade, ou vontade, incondicionada, indeterminada, numa pretensa liberdade humana independente tanto dos limites e das leis da natureza externa, quanto da natureza interna, da determinação corporal e das necessidades naturais humanas. Com isto, não há, todavia, em Feuerbach um determinismo ou uma negação da liberdade, da vontade, mas a defesa de que a liberdade humana não é absoluta e incondicionalmente livre, mas condicionada pelo tempo, pelo momento histórico, pela idade, por meios materiais e sensíveis, pela situação ambiental, pelas condições e circunstâncias da natureza, como alimento, vestimentas, luz, ar, água, espaço e tempo, pois ter vontade é sempre ter vontade de algo, já que ela é sempre vontade mediada por um objeto, e é só, através das condições e mediações, que se alcança a liberdade, e, assim, a liberdade, a vontade, se torna concreta.

Abstract:

The article intends to highlight the thesis that nature for Feuerbach is an autonomous and independent existent, has primacy before the spirit and that it is the material basis of human freedom. For him, the material nature, which exists, in its qualitative differentiation, independent of thinking, is the original, the non-deductible, immediate, uncreated foundation of all real existence. Feuerbach opposes nature to spirit, because he understands it not as a pure other, but, as the first, objective, material reality, which exists outside of understanding and is given to man through your senses as the foundation and essence of your life. This is also an exhibition of Ludwig Feuerbach’s materialistic, posterioristic ethics based on his critique of all a priori, transcendental, unlimited, indifferent, immediate, pure, contentless ethics, abstracted from determinations, from the concrete situation, based on a freedom, or will, unconditioned, undetermined, on an alleged human freedom independent of both the limits and laws of external nature, as well as internal nature, corporal determination and human natural needs. With this, however, in Feuerbach there is no determinism or denial of freedom, of will, but the defense that human freedom is not absolutely and unconditionally free, but conditioned by time, by the historical moment, by age, by means material and sensitive, due to the environmental situation, the conditions and circumstances of nature, such as food, clothing, light, air, water, space and time, because having a will is always having a will for something, since it is always a will mediated by an object, and it is only through conditions and mediations that freedom is achieved, and, thus, freedom, the will, becomes concrete.

ISSN: 19844255

DOI: https://doi.org/10.36517/Argumentos.24.3

Texto Completo: http://www.periodicos.ufc.br/argumentos/article/view/60310

Palavras-Chave: Natureza. Liberdade. Ética. Feuerbach.

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