Complexidades do uso atributivo de descrições definidas

Ano 15 nº 29 2023 • Argumentos: Revista de Filosofia (UFC)

Autor: Rodrigo Jungmann de Castro

Resumo:

O artigo de Keith S. Donnellan “Reference and Definite Descriptions” (1966) foi escrito com a intenção de mostrar que as teorias de Bertrand Russell e Peter F. Strawson falham por igual em capturar o uso linguístico efetivo das descrições definidas. Contudo, situação se complica para Donnellan à luz do fato de que muitos usos concebíveis de descrições definidas não parecem caber em nenhuma das duas categorias. Há usos que devem ser entendidos antes como motivados pela deferência do que como atributivos, assim como há usos em que variadas falências referenciais cometidas pelos falantes têm como consequência situações em que a descrição simplesmente não dá conta da variedade de possibilidades, vale dizer, casos em que não cabe falar nem em uso referencial nem em uso atributivo. A razão para tanto parece ser a de que dificilmente há um uso atributivo “puro”. As descrições usadas nos exemplos corriqueiros contêm normalmente elementos referenciais, como nomes e indexicais. Quando estes são mal-empregados, a insuficiência da distinção de Donnellan é exposta. A segunda tese aqui apresentada é a de que os usos atributivos previstos no artigo clássico de Donnellan se caracterizam por sua natureza inferencial distintiva, com a consequência de que o seu uso atributivo é em geral menos natural e plausível do que o uso referencial.

Abstract:

Keith S. Donnellan’s article “Reference and Definite Descriptions” (1966) was written with the intention of showing that the theories of Bertrand Russell and Peter F. Strawson equally fail to capture the actual linguistic use of definite descriptions. With this end, Donnellan dwells on the distinction between the attributive and referential uses. However, the situation is complicated for Donnellan in light of the fact that many conceivable uses of definite descriptions do not seem to fit into either category. There are uses that should be understood as deferential rather than attributive, just as there are uses in which various possibilities of referential failure committed by speakers result in situations in which the description simply does not account for the variety of possibilities, that is, cases in which one cannot speak of either a referential or an attributive use. The reason for this seems to be that there is hardly a “pure” attributive use. The descriptions used in common examples usually contain referential elements, such as nouns and indexicals. When these are misused, the inadequacy of Donnellan’s distinction is exposed. The second thesis presented here is that the attributive uses envisaged in Donnellan’s classic paper are characterized by their distinctive inferencial nature, with the consequence that the attributive use is generally less natural and plausible than the referential use.

ISSN: 1984-4255

DOI: https://doi.org/10.36517/Argumentos.29.15

Texto Completo: http://periodicos.ufc.br/argumentos/article/view/80582

Palavras-Chave: Teoria da referência. Distinção atributivo/referencial. Semântica.

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