O assassino burocrata (desk murderer) e o homem subalterno: reflexões a partir do ensaio "Auschwitz em julgamento"

Ano 16 nº 31 2024 • Argumentos: Revista de Filosofia (UFC)

Autor: Lara Rocha, Odílio Alves Aguiar

Resumo:

As reflexões arendtianas sobre as reverberações da forma burocrática de governar ensejam duas trajetórias argumentativas distintas e, sobretudo, complementares: 1) a sua investigação como forma de dominação oriunda do imperialismo e posteriormente utilizada como o modelo de organização totalitária e dos países pós-1945; 2) o papel dos burocratas. Ambas auxiliam a compreender por que a burocracia não apenas sobreviveu à queda dos regimes totalitários, como permaneceu sendo o modelo organizacional das nações. Na interseção dessas leituras, o ensaio “Auschwitz em julgamento” apresenta dois tipos de partícipes do aparato burocrático nazista: os assassinos burocratas (desk murderes) e os homens subalternos. Em comum entre eles havia a ausência de responsabilidade pelos crimes perpetrados pelo regime e a irreflexão; porém, seu grau de participação na hierarquia e sua punibilidade nos julgamentos do pós-guerra diferiram sobremaneira. Nesses termos, o presente artigo objetiva analisar as semelhanças e diferenças existentes entre os homens subalternos e os assassinos burocratas. Para tanto, parte-se do pressuposto que compreendê-los auxilia a entender a burocracia como forma de governo que inviabiliza a liberdade pública e o livre exercício das atividades espirituais.

Abstract:

Arendt’s reflections on the reverberations of the bureaucratic way of governing give rise to two distinct and, above all, complementary argumentative trajectories: 1) its investigation as a form of domination originating from imperialism and later used as a model of totalitarian; 2) the role of bureaucrats. Both help to understand why the bureaucracy not only survived the fall of totalitarian regimes, but also remained the organizational model of nations. At the intersection of these readings, the essay “Auschwitz on Trial” presents two types of participants in the Nazi bureaucratic apparatus: bureaucratic assassins (desk murderes) and subordinate men. In common among them was a lack of responsibility for the crimes perpetrated by the regime and thoughtlessness; however, their degree of participation in the hierarchy and their punishability in post-war trials differed greatly. In these terms, this article aims to analyze the similarities and differences between subordinate men and bureaucratic murderers. To do so, it is assumed that understanding them helps to understand bureaucracy as a form of government that makes public freedom and the free exercise of spiritual activities unfeasible.

ISSN: 1984-4255

Texto Completo: http://periodicos.ufc.br/argumentos/article/view/92033

Palavras-Chave: Burocracia. Hannah Arendt. Assassino burocrata. Homem Subalterno. Bernd Naumann. Auschwitz.

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