Hannah Arendt e o pensamento político: a arte de distinguir e relacionar conceitos

Ano 5 n°9 2013 • Argumentos: Revista de Filosofia (UFC)

Autor: André Duarte

Resumo:

O texto discute a peculiaridade do pensamento político arendtiano, cuja originalidade e independência com relação aos critérios ideológicos clássicos, tais como direita e esquerda, frequentemente desconcerta seus leitores, tanto mais que a própria autora não revela os princípios metodológicos fundamentais que orientam seu pensamento. A hipótese é que a principal característica do pensamento político arendtiano reside em sua capacidade de distinguir e relacionar conceitos. Esta interpretação opõe-se às leituras que enfatizam o caráter rígido e dicotômico das distinções arendtianas, aspecto que as tornariam inviáveis para a discussão de problemas políticos contemporâneos. Com relação a essas críticas, argumento que, frente à ruptura da tradição, Arendt exercita um pensamento "sem amparos", nem dialético nem esquemático, mas que simultaneamente distingue e relaciona conceitos opostos, tornando-os inteligíveis por meio de sua confrontação e complementaridade. Penso finalmente que o esclarecimento desse procedimento metodológico permite reler as obras de Arendt de maneira a ressaltar a atualidade de sua reflexão para os problemas político-sociais do presente.

Abstract:

The text discusses Arendt’s peculiar political thought, whose originality and independence concerning classic ideological criteria such as right and left frequently arises perplexities amongst her readers. This situation is aggravated by the fact that Arendt offers no explanation concerning the methodological procedures that orient her political thought. My hypothesis is that the main characteristic of Arendt’s political thinking lies in its capacity of both distinguishing and relating the distinguished concepts, an interpretation that counters current critical readings that stress Arendt’s supposedly rigid and contemporarily unattainable concepts. Against those criticisms, I argue that by facing the rupture of tradition Arendt exercised a “thinking without banisters” which was neither dialectical nor squematic, a thinking that proceeded by simultaneously distinguishing and relating concepts, so that their own intelligibility depends on their own confrontation and correlation. Finally, I believe that by clarifying this Arendtian thought-procedure one is entitled to rereading her works, thus highlighting their relevance to understanding some of our social-political matters.

ISSN: 19844255

Texto Completo: http://periodicos.ufc.br/argumentos/article/view/19001

Palavras-Chave: Pensamento político. Arendt. Distinção conceitual. Ruptura da tradição.

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