Antiguidade e modernidade na Teoria do romance de Georg Lukács

v. 25 n. 1 (2020) • Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade

Autor: Anouch Neves de Oliveira Kurkdjian

Resumo:

Este artigo orienta-se pelo esforço de esmiuçar as características da contraposição entre mundo antigo e mundo moderno formulada por Lukács em sua obra A teoria do romance. Para esse objetivo, parte-se de uma recuperação de certo debate estético alemão no século XVIII, momento no qual a busca pelos fundamentos da arte moderna leva à formulação do contraste entre uma cultura orgânica e plena de sentido, localizada em uma Grécia mítica, e um mundo cindido e fragmentado, que corresponderia à época moderna. As reflexões de Friedrich Schlegel ganham atenção especial aqui, na medida em que tratam essa contraposição de maneira mais histórica do que as de seus contemporâneos. Em seguida, são apontadas as especificidades da abordagem de Lukács acerca da questão, baseadas em uma apreensão mais atenta aos fundamentos histórico-sociais que envolvem a perda de um sentido unitário para a vida na modernidade. Essa percepção permite a Lukács apontar os limites da solução aventada pelos românticos para a superação do caráter cindido da modernidade.

Abstract:

This article aims to illuminate the contrast between ancient and modern world formulated by Lukács in his work The Theory of the Novel. In order to do this, we turn back to a debate on Aesthetics from the XVIII century Germany, where the search for the fundamentals of modern art leads the debate to the construction of a contrast between an organic culture, filled with meaning, located in a mythical conception of Greece, and a splitted and fragmented world, which corresponds to the modern era. Friedrich Schlegel’s reflections on this subject are taken into special account here, since he treated this comparison in a historical way more so than his contemporaries. Following this, we point to the specificities of Lukács’ approach to the issue, which is more attuned to the historical and social basis of the process that culminated in the loss of a unitary meaning for life in modernity. We seek to show how this perception makes possible for Lukács to point out the limits of the romantic solutions to the splitted character of modernity.

DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2318-9800.v25i1p13-29

Palavras-Chave: Lukács, Schlegel, romance, modernidade

Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade

Organizada pelo Grupo de Filosofia Crítica e Modernidade (FiCeM), um grupo de estudos constituído por professores(as) e estudantes de diferentes universidades brasileiras, a revista Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade é uma publicação semestral do Departamento de Filosofia da USP que, iniciada em 1996, pretende estimular o debate de questões importantes para a compreensão da modernidade.

Tendo como ponto de partida filósofos(as) de língua alemã, cujo papel na constituição dessa reflexão sobre a modernidade foi – e ainda é – reconhecidamente decisivo, os Cadernos de Filosofia Alemã não se circunscrevem, todavia, ao pensamento veiculado em alemão, buscando antes um alargamento de fronteiras que faça jus ao mote, entre nós consagrado, da filosofia como “um convite à liberdade e à alegria da reflexão”.