O Diálogo de Galileu e a Condenação

Série 3 v. 10 n. 1 • Cadernos de História e Filosofia da Ciência

Autor: Pablo Mariconda

Resumo:

Do anúncio das descobertas telescópicas no Sidereus Nuncius em 1610 à proibição do Diálogo e à condenação de Galileu pela Inquisição romana em 1633, sua atuação em defesa do copernicanismo ultrapassa as fronteiras científicas, adquirindo uma dimensão cultural ampla, que a permite caracterizar como intelectual. Para revelar-lhe o alcance, faço uma contextualização histórica da cultura italiana, com eixo analítico na política cultural da Igreja católica durante a Contrareforma, discutindo dois de seus aspectos centrais: o programa educacional dos jesuítas; e a Inquisição como instrumento legal e jurídico pelo qual se institucionaliza a intolerância. Nesse contexto inserem-se: o pleito de autonomia da ciência formulado por Galileu na polêmica acerca da compatibilidade de Copérnico com a Bíblia; e sua crítica incisiva ao princípio de autoridade, seja de Aristóteles nas questões naturais, seja da teologia sobre todos os produtos culturais. Essa crítica atinge o fundamento autoritário da política cultural contrareformista, repercutindo no plano do sistema tradicional de transmissão do conhecimento; opondo-se à concepção vigente do lugar da matemática na hierarquia das ciências; e finalmente afastando-se do ideal tradicionalista da sociedade contrareformista italiana. Baseado nas implicações da condenação de Copérnico, de 1616, discuto a proibição do Diálogo e a condenação de Galileu. A análise do corpo de delito permite mostrar que o processo foi eminentemente político, mais um dos muitos processos inquisitoriais movidos pela Igreja contra a cultura renascentista e humanista italiana. Palavras-chave: Galileu; Copérnico; Aristóteles; Bruno; Bellarmino; Sarpi; Inquisição; Contrareforma; copernicanismo; revolução científica; história da ciência.

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Cadernos de História e Filosofia da Ciência

Os Cadernos de História e Filosofia da Ciência dirigem-se especialmente ao público interessado nas áreas de Epistemologia, Filosofia da Ciência, Teoria do Conhecimento e História das Ciências. Têm por objetivo central a publicação de artigos e notas originais de pesquisadores nacionais e estrangeiros, traduções de textos concernentes aos temas mais centrais da reflexão filosófica, metodológica e histórica sobre a ciência, e traduções comentadas de textos marcantes do desenrolar histórico dessa reflexão, bem como resenhas nas áreas do conhecimento em que os Cadernos atuam.