Apresentação

V. 15, N. 2 • Conjectura: filosofia e educação

Autor: Eliana Maria do Sacramento Soares

Resumo:

Observando nosso entorno, não há como negar que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão mudando nossa vida, nossos hábitos e nossa maneira de conviver, uma vez que elas proporcionam diversas formas de acesso, armazenamento e aquisição de informação, bem como formas alternativas para a comunicação.
     Considerando a educação como agente que pode e deve impulsionar transformações no sentido de promover a formação de indivíduos criativos e empreendedores, capazes de despertar o mundo para uma consciência global e sistêmica, pensarmos a relação entre educação e as TICs é um desafio relevante para que a inserção das TICs, em processos educativos, traga consigo um repensar das práticas pedagógicas, fazendo surgir formas inovadoras para essas práticas. Por exemplo, se refletirmos sobre a forma como a internet acolhe blogs, orkuts, MSN e outros recursos de comunicação e a forma como os nossos jovens "nativos digitais" os utilizam para se comunicar e trocar ideias, podemos pensar em derivar daí possibilidades de utilizar esses recursos para mediar o diálogo pedagógico e repensar a forma como temos planejado nosso fazer docente. Esses recursos podem ser configurados para constituir ambientes de aprendizagem, "locais simulados", na web, que servem de mediação ou suporte para o
desenvolvimento de processos educativos. Podem ser entendidos como "cenários onde as pessoas interagem", mediadas pela linguagem suportada pela interface gráfica/digital, podendo fazer surgir um espaço onde os interagentes se constroem como elementos ativos,  coautores do processo de aprendizagem. 
     A partir dessa forma de pensar as TICs, como recursos pedagógicos, as concepções tradicionais de ensino e aprendizagem podem ser redimensionadas. Isso já está acontecendo, fazendo surgir novos perfis de professor e de estudante. No caso do professor, ele surge como problematizador (formulando questões, problemas, provocando interrogações); promovendo interações que favoreçam o diálogo e as cooperações; suscitando a expressão e a confrontação; sistematizando as experiências/colaborações dos estudantes em coautoria com eles, intervindo de forma cooperativa. Nesse cenário, o estudante aparece como um agente ativo, participativo, comprometido e envolvido. 
     Sob essa forma de abordar as TICs nos processos educativos, a ação do professor, que atua na rede de convivência e de interação que será desenvolvida, a partir de ações conjuntas dele próprio e dos estudantes, pode ser melhor entendida pela expressão "gestão pedagógica", uma vezque o foco do processo educativo ultrapassa o discurso  do professor. A gestão pedagógica, sob essa ótica, é uma administração do ambiente de aprendizagem, em termos de criação de estratégias, intervenções, orientações e processos de avaliação, a partir da observação do fluxo das interações.
     Pensadas a partir dessa perspectiva, as chamadas TICs apresentam possibilidades para a mediação do processo educativo, podendo trazer consigo mudanças que vão muito além de aspectos técnicos, pedagógicos e administrativos. Nesse sentido, é importante destacar que o uso das tecnologias precisa trazer consigo um repensar e um redimensionar das ações educativas, para que seu uso, na educação, ultrapasse o simples repassar de informações e se constitua numa possibilidade de emergência de contextos de aprendizagem, baseados em construção,  interação e colaboração. Vale ressaltar que essas tecnologias farão surgir o que os sujeitos agentes definirão, pois elas apenas fazem fluir aquilo que nós, os sujeitos na ação, vamos pensar, planejar, decidir. Nesse viés, o que faremos com as tecnologias será definido pela nossa ação, que, por sua vez, reflete nossa visão de mundo. 
     A fim de avançar nessa reflexão e construção de inovação no contexto das TICs e educação, pesquisadores e estudiosos do tema oferecem suas produções, neste número da Revista Conjectura que foi dedicado ao tema. 
     Assim, apresentamos 11 artigos e quatro resenhas para discussões e reflexões em torno do tema, na intenção de que possamos contribuir para o avanço dos estudos, das produções e intervenções no contexto dos processos educativos mediados pelas TICs.
     O primeiro artigo é de autoria de Adriano Rodrigues Ruiz, com o título "A reconstrução das práticas educativas e a arte de escolher". Nele o autor aborda aspectos que ganharam relevância, com o advento das tecnologias, nos processos educacionais, tais como, o apreço à autoria; a autonomia para aprender; e o cuidado com a disciplina intelectual, referindose, ainda, à importância da reconstrução das práticas educativas.
    No segundo artigo, Ana Cláudia Cerini Trevisan, Gabriela Spagnuolo Cavicchioli, Mariana Sieni da Cruz Gallo e Doralice Aparecida Paranzini Gorni apresentam o texto intitulado "TV Pendrive: o que dizem os professores", no qual discutem as relações existentes entre mídia e educação, analisando as políticas públicas que influenciaram a criação da TV Pendrive, identificando a percepção dos professores acerca da mesma.
     O terceiro artigo, cujo título é "Ciborgues, robôs e clones na pedagogia do cinema", de Angela Dillmann Nunes Bicca e Maria Lúcia Castagana Wortmann, apresenta discussões a partir de alguns filmes classificados como de ficção científica, mostrando como o cinema nos tem ensinado a ver e a viver nessa civilização altamente tecnológica. Muitos dos debates conduzidos salientam a centralidade que as TICs alcançam nas sociedades contemporâneas, convidando o leitor a pensar como isso pode ser refletido
ou aproveitado nos processos educativos. 
     O quarto artigo, dos autores César Fernando Meurer, Neusa Maria John Scheid e Cledes Antonio Casagrande, com o título "Aprendizagem no ciberespaço", parte de interrogações de índole epistemológica, caracterizandoa hipermídia como a linguagem do ciberespaço e identificando diferentes perfis de leitores de hipermídia, para apresentar considerações em torno de dois aspectos: as tecnologias digitais, que possuem potencial para amplificar a aprendizagem; e as tecnologias digitais, que não minimizam a importância da mediação docente na forma escolar de aprendizagem. 
     No quinto artigo, Diego Chiapinotto apresenta o texto intitulado "Linguagem, educação e TICs", discutindo as relações entre linguagem, educação e TICs a partir da teoria do interacionismo sociodiscursivo.
     No sexto artigo intitulado "Interação mediada por computador: hipermídia educacional nas atividades de estudo a distância", Fabiane Sarmento Oliveira Fruet e Fábio da Purificação de Bastos apresentam estudos problematizando a integração da hipermídia educacional, nas atividades de estudo a distância como possibilidade de potencializar a interação mediada por computador. 
     No sétimo artigo, denominado "A cultura emergente na convivência em MDV3D", Luciana Backes discorre sobre como o desenvolvimento das TDVs possibilita a ampliação dos espaços de relação e interação entre os seres humanos, modificando, assim, a forma de viver e conviver em espaços digitais virtuais, fazendo emergir outra cultura que configura o pensar, as ações e as reflexões das novas gerações. A autora ainda enfatiza que a educação tem como comprometimento qualificar o processo de reflexão, a fim de que as novas gerações tenham consciência sobre o seu pensar e o seu agir, nos espaços acima citados. 
     O artigo de número oito tem como título "Inovações educacionais versus cultura escolar: as implicações dos paradigmas de formação docente e da incorporação do uso pedagógico das TICs aos processos escolares". Nele as autoras Luciene Aparecida da Silva e Lucília Regina de Souza Machado abordam as tensões emergentes do antagonismo entre a demanda pelo fomento à disseminação das inovações educacionais e a cultura escolar vigente. Assim, o uso pedagógico das TICs nos processos educacionais escolares é problematizado como estratégia promissora à indução da cultura de trabalho docente colaborativo. 
     No artigo nove, Sílvia Meirelles Leite, Patricia Alejandra Behar e Maria Luiza Becker apresentam o texto de título "A ação de projetar Ambientes Virtuais de Aprendizagem: relações entre a construção de formalizações e a criação de novidades". Nele as autoras discutem a relação entre a construção de formalizações e a criação de novidades na ação de projetar Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), apresentando um estudo de caso sobre essa ação, enfocando o jogo entre forma e conteúdo, que caracteriza a ação de projetar, de modo que os observáveis apontados e as coordenações realizadas pelos projetistas se configuram como os observáveis desse estudo. 
     No décimo artigo, Valéria De Bettio Mattos apresenta texto intitulado "Ambientes Virtuais de Aprendizagem: um relato da capacitação online de professores para utilização de softwares da coleção Educação Digital do Sistema "S". Nele é apresentado estudo sobre a capacitação a distância de funcionários do Sistema "S" sobre recursos didáticos.
     O décimo primeiro artigo é de autoria de Leandro Petarnella e Maria Lucia de Amorim Soares, intitulado "A tensão modernidade/pósmodernidade como força propulsora das simbioses contemporâneas e o cotidiano escolar". Nele os autores nos levam a refletir sobre as implicações das tecnologias na mutação social e no  cotidiano escolar. Para tanto, buscam na mitologia elementos para concluir, dentre outros aspectos, que, na tensão modernidade/pós-modernidade, está em curso a emergência de um novo sujeito, de um novo lugar, de novas demandas para a educação. 
     Na sequência, temos cinco resenhas: a primeira do livro "Homo Zappiens: educando na era digital", de Wim Veen e Ben Vrakking, elaborada por Leandro Petarnella e Eduardo de Campos Garcia; a segunda do livro Pesquisando fundamentos para novas práticas na educação on-line, de Maria Cândida Borges de Moraes, elaborada por Marcelo Prado Amaral Rosa; a terceira do livro Games em educação: como os nativos digitais aprendem, elaborada por Cristina M. Pescador e a quarta do livro A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço, de autoria de Celso Samir  Guielcer de For. 
     E por fim apresentamos a tradução do texto de Marc Prensky, cujo título é O papel da tecnologia no ensino e na sala de aula. Nele o autor provoca a reflexão sobre o devir da educação, no contexto das tecnologias, destacando que seu único papel deveria ser o de apoiar os alunos no processo de ensinarem a si mesmos, sob a orientação de seus professores. 
     Finalizando, em nome da direção do Centro de Filosofia e Educação, do coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul e em meu próprio, agradeço aos autores a valiosa contribuição a esse número da Revista Conjectura.
     As reflexões aqui oferecidas aos leitores, pesquisadores e professores é um convite para pensarmos nos processos educativos mediados pelas tecnologias que podem ser catalisadores de novos modos de ser, conhecer e conviver.

Texto Completo: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/issue/view/33/showToc

Conjectura: filosofia e educação

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