OBSERVAÇÕES SOBRE A SEGUNDA ANTROPOLOGIA: O PENSAMENTO COMO ALIENAÇÃO

Kriterion, v. 47, n. 114 (2006) • Kriterion: Revista de Filosofia

Autor: Vincent Carraud

Resumo:

Em Pascal et la philosophie, qualifi camos de primeira antropologia aquela que Pascal emprega na “Conferência a Port-Royal” e que faz o projeto da Apologia. Fundamentada na oposição agostiniana da grandeza e da miséria, essa antropologia é “abstrata” no sentido em que considera uma natureza humana dada de maneira puramente teórica. Por segunda antropologia, entendemos designar o conjunto das refl exões pascalianas que não poderiam entrar na problemática secular da verdadeira religião. Fazendo aí uma obra absolutamente original, Pascal expõe os conceitos fundamentais de imaginação, de justiça e de força, de divertimento ou de glória. Com eles, a segunda antropologia está des-teologizada: a teologia não está nem em seu princípio, nem em seu fi m como apologética. Pascal considera nela não apenas o homem, mas os homens em suas determinações concretas, existenciais, e não somente em função de uma natureza humana, ainda que contraditória. O pensamento do homem como paradoxo foi substituído pelo do homem em sua fi nitude. A partir da leitura dos fragmentos La 620, 470 e 806 e do tema existencial da glória, o presente artigo esboça uma caracterização positiva da segunda antropologia: ela revela que o homem se descobre habitado por um outro sujeito, a imaginação. Por aí mesmo, a segunda antropologia revela-se um pensamento da alienação, um pensamento do pensamento como alienação.

Abstract:

Dans Pascal et la philosophie, nous avons qualifi é de première anthropologie l’anthropologie que Pascal met en œuvre dans la “Conférence à Port-Royal” et qui fait le projet de l’Apologie. Fondée sur l’opposition augustinienne de la grandeur et de la misère, cette anthropologie est “abstraite”, au sens où elle envisage une nature humaine donnée de façon purement théorique. Par seconde anthropologie, nous entendons désigner l’ensemble des réfl exions pascaliennes qui ne sauraient entrer dans la problématique séculaire de la vraie religion: y faisant œuvre absolument originale, Pascal met au jour les concepts fondamentaux d’imagination, de justice et de force, de divertissement ou de gloire. Avec eux, la seconde anthropologie est dé-théologisée: la théologie n’est ni à son principe ni à sa fi n, comme apologétique. Pascal y envisage non seulement l’homme pour luimême, mais les hommes dans leurs déterminations concrètes, existentielles, et non seulement en fonction d’une nature humaine, fût-elle contradictoire. A la pensée de l’homme comme paradoxe s’est alors substituée celle de l’homme dans sa fi nitude. A partir de la lecture des fragments La 620, 470 et 806 et du thème existentiel de la gloire, le présent article esquisse une caractérisation positive de la seconde anthropologie: elle révèle que l’homme se découvre habité par un autre sujet en lui, l’imagination. Par là même, la seconde anthropologie s’avère être une pensée de l’aliénation, une pensée de la pensée comme aliénation.

Texto Completo: http://www.scielo.br/pdf/kr/v47n114/a0747114.pdf

Palavras-Chave: Antropologia,Pensamento,Imaginação, Alienação

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