ENERGÉTICA E HERMENÊUTICA: “O PROBLEMA EPISTEMOLÓGICO DO FREUDISMO” DISCUTIDO POR PAUL RICOEUR

PROMETEUS ANO 6 VOLUME 6 NÚMERO 12 • Prometeus: journal of philosophy

Autor: Ricardo Jardim Andrade

Resumo:

Pode-se considerar como científico o discurso freudiano? Esta é uma questão que tem sido discutida desde os primórdios da psicanálise e recebido por parte de vários estudiosos, notadamente de lógicos, a resposta negativa.  Em consonância com tais críticas, alguns teóricos se empenharam para oferecer à psicanálise uma roupagem compatível com as exigências dos lógicos. Os ensaios de releitura do discurso freudiano vêm tanto do interior da psicanálise como do exterior. No primeiro caso, situa-se a tentativa de D. Rapaport de reintegrar a psicanálise na psicologia científica.  No segundo, o empenho de B. F. Skinner para se apropriar da teoria psicanalítica, tendo em vista submetê-la ao esquema behaviorista estímulo-resposta. Ricoeur contesta energicamente esta postura reducionista. As reformulações operacionalistas e behavioristas, como denuncia o pensador francês, sequer acenam com a possibilidade de se colocar a questão do sentido. Ora, alijar o sentido do discurso metapsicológico é desfigurar a psicanálise, a ponto de torná-la irreconhecível. Contudo, não é menos grave a falta inversa: reter apenas a interpretação, sem levar em conta as forças que distorcem o sentido. No entanto, este equívoco foi cometido por vários teóricos, notadamente, R. Dalbiez e J. Hyppolite. O primeiro distingue e separa a doutrina freudiana, considerada por ele como fisicista e naturalista, do método psicanalítico, o qual, no seu entender, seria bem fundamentado e corresponderia à psicanálise propriamente dita. Fazendo eco a Dalbiez, Hypppolite denuncia o contraste entre o suposto positivismo teórico de Freud e o seu método clínico interpretativo. O ponto mais crítico do discurso freudiano seria a concepção energética do psiquismo.  Ricoeur retoma a discussão do “problema epistemológico do freudismo” no ponto em que Hyppolite a deixou. Este problema, para ele, toma a forma de uma aporia cujos termos são a energética e a hermenêutica. Como justificar uma econômica que se funda na interpretação clínica dos sonhos, sintomas e atos falhos e uma interpretação que deve necessariamente recorrer à explicação econômica, com seus modelos energéticos, profundamente estranhos ao sentido? Segundo Ricoeur, o discurso psicanalítico é simultaneamente energético e hermenêutico, explicativo e interpretativo. “A psicanálise não é uma ciência de observação”, sintetiza nosso pensador, mas uma ciência hermenêutica.

Texto Completo: https://jornaisdesergipe.ufs.br/index.php/prometeus/article/view/1027

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