NEUROCIÊNCIA E FILOSOFIA DA LINGUAGEM: UMA INTERAÇÃO POSSÍVEL

v. 1, n. 45 (2022) • Revista Ideação

Autor: ANDRÉ LECLERC 1 E FRANCISCO HELIO CAVALCANTE FELIX 2

Resumo:

O conhecimento científico já desafiou a sabedoria estabelecida inúmeras vezes, desde a revolução copernicana até os achados sobre evolução biológica. A filosofia não ficou incólume. Importa, contudo, não utilizar erroneamente os achados científicos e evitar problemas potencialmente prejudiciais, como o cientificismo e as simplificações indesejadas. Respeitando tais precauções, novos achados em neurociência sobre processamento linguístico e seus caminhos neurais podem incrementar a discussão acerca de certas teorias da filosofia da linguagem relacionadas ao significado e à epistemologia. O arcabouço teórico não-mentalista, notadamente a abordagem kripkeana, parece se coadunar com achados do processamento linguístico na primeira infância, durante a construção de um aparato semântico. Uma vez estabilizado este aparato, o arcabouço teórico mentalista de Grice parece ganhar relevância. Adicionalmente, os clássicos conceitos russellianos de conhecimento por familiaridade e conhecimento por descrição também podem ser incrementados pela neurolinguística. Está claro que a ciência não pode ser base única de posições filosóficas, mas os achados em neurociência mostram que ela pode ser utilizada como um filtro que destaca e reforça algumas teorias filosóficas sobre questões complexas. Isso indica que cada uma dessas abordagens da filosofia da linguagem e epistemologia tem seus méritos e parece ser capaz de melhor abordar certas configurações da realidade

Abstract:

Scientific knowledge has challenged established wisdom countless times, from the Copernican revolution to the findings on biological evolution. Philosophy did not remain untouched either. Nevertheless, it is important not to misuse scientific findings and to avoid potentially harmful issues like scientism and undesired simplifications. Observing these precautions, new findings on neuroscience regarding language processing and its neural pathways may enhance the discussion about certain theories on philosophy of language related to meaning and epistemology. Non-mentalist theoretical framework, mainly the Kripkean approach, seems to fit well with the findings on language processing in early childhood, during the construction of a semantic apparatus. Once this apparatus is stabilized, Grice's mentalist theoretical framework seems to gain relevance. Besides this, the classic Russellian concepts of knowledge by acquaintance and knowledge by description can also be enriched by neurolinguistics. It is clear that science cannot be the sole basis of philosophical positions, but findings on neuroscience show that it can be used as a filter to highlight and to reinforce some philosophical theories on complex questions. This indicates that each of these theoretical approaches to philosophy of language and epistemology has its merits and seems to be able to better address certain configurations of reality.

Texto Completo: http://periodicos.uefs.br/index.php/revistaideacao/article/view/8293

Palavras-Chave: Neurociência; Filosofia da Linguagem; Teoria do Significado; Epistemologia; Neurolinguística.

Revista Ideação

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