A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR, E A OUTRIDADE: ENTRE A LINGUAGEM, O SENTIDO E O TESTEMUNHO

v. 1, n. 45 (2022) • Revista Ideação

Autor: RAFAEL BATISTA DIAS

Resumo:

Este artigo busca, a partir das teorias de Freud, Gadamer e Levinas, pensar um tipo de existência, encarnado no continuum discursivo e desdobrado no real como repetição. Tratase, aqui, de considerar uma personagem literária específica, Macabéa - da novela A hora da estrela, de Clarice Lispector, publicada originalmente, em 1977 -, uma nordestina de rosto estranho e fala inquietante que rompe com o tecido da ficção em virtude de sua alteridade incomum. Situada no limiar entre a imaginação e o real, dos seus elementos discursivos na cultura (narrativa, falas, comentários) não se apreende uma feição única, nem um retrato elucidatório e simplificado, ainda que se incorresse na facilidade fenomenológica husserliana de reduzi-la à unidade do sujeito espelhado ou projetado. Trata-se de uma personagem literária importante justamente pela sua aura misteriosa. Seria ela uma mulher simplesmente alienada? Uma anti-heroína em estado bruto, com potencial para o despertar da sua condição sociopolítica? Ou uma pessoa banal, sem filiação às "grandes narrativas"? Um outro radical, ou seja, uma outridade, segundo Levinas? Enfim, o que é possível dizer sobre a mente Macabéa?

Abstract:

This article aims, based on Freud’s, Gadamer’s and Levinas’ theories, to think about a type of existence, embodied in the discursive continuum and unfolded in the real as a repetition. Here, it is about considering a specific literary character, Macabéa - from the novella A hora da estrela (first edition in 1977), by the Ucranian author Clarice Lispector -, a Brazil Northeasterner whose strange face and disturbing speech breaks the fabric of fiction by virtue of her uncommon otherness. Situated on the threshold between the imagination and the real, her discursive elements in culture (narrative, speech, commentaries) are difficult to apprehend in a single feature, nor an elucidatory and mathematized portrait, even if we fall into the Husserlian phenomenological facility of reducing her to the unity of the mirrored or projected subject. This is an important literary character due to her mysterious aura. Is she simply a phantasmatic woman? Or an anti-heroine in a raw state, with the potential for awakening from her socio-political condition? Either, an ordinary person, with no affiliation with the "grand narratives"? A radical other, that is, an otherness according to Levinas? At last, what is in Macabéa’s mind?

Texto Completo: http://periodicos.uefs.br/index.php/revistaideacao/article/view/7500

Palavras-Chave: Levinas; Filosofia da percepção; Literatura; Clarice Lispector; alteridade.

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