O INIMIGO NO ESPAÇO COLONIAL E O DISCURSO SOBRE RAÇA COMO OPERADOR BIONECROPOLÍTICO

Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia - v. 12 n. 32 (2020): Filosofia Política e do Direito • Revista Kínesis

Autor: Isabela Simões Bueno

Resumo:

O presente artigo busca pensar, tomando como base as obras de Achille Mbembe (2018) e Grada Kilomba (2019), a construção da figura do “inimigo”, ou do “Outro”, a partir do advento do conceito de raça e das práticas de racismo no seio das sociedades colonialistas. Isso porque a lógica colonial, de acordo com os autores supracitados, não admite qualquer tipo de vínculo entre o conquistador e o nativo ou o escravizado que não seja a partir da negação, da exclusão e da violência exercida por aquele no corpo destes, de tal sorte que o espaço da colônia se converte em um grande laboratório bionecropolítico. Para compreendermos, portanto, a necessidade de hierarquização entre uns e outros –e da consequente inferiorização do Outro-, partiremos da proposição de Mbembe, em seu ensaio Necropolítica (2018), na qual o autor identifica o racismo como a “condição para aceitabilidade do fazer morrer”. Nesse sentido, a conversão daqueles considerados inferiores, com base em critérios construídos pelo discurso europeu sobre “raça”, em inimigos passou a atuar como forma de justificar o exercício do poder punitivo e do poder de morte sobre esses corpos. Por fim, à guisa de conclusão, tentamos ressaltar que o considerado passado colonial e escravocrata ainda se faz presente em nosso cotidiano e na maneira de fazer política na contemporaneidade, ao atentarmo-nos para os frequentes episódios de genocídio do povo negro ainda no século XXI.

Abstract:

The following article aims to think, based on the works of Achille Mbembe (2018) and Grada Kilomba (2019), the construction of the image of the “enemy”, or the “Other”, from the advent of the concept of “race” and the pratice and actions of racism inside the colonialist societies. This because the colonial logic, according to the authors mentioned above, does not admit any type of bond between the colonizer and the native or enslaved person that is not developed through a process of denial, exclusion and violence employed by that one on the body of these ones, so that the colony space is turned into a great bionecropolitical laboratory. For one to understand, therefore, the need of hierarchization between ones and others –and the following inferiorization of the “Other”-, we will consider Mbembe’s proposition, in his essay Necropolitics (2018), in which the author identifies racism as the “condition for the acceptability of putting to death”. This way, the conversion of those considered inferior, based on a series of criteria constructed by the European speech on “race”, into enemies started acting as a way to justify the exercise the punitive power and the power of death on these bodies. At last, in conclusion, one tried to highlight that the considered colonial and slave-based past is still present in our everyday life and in the way of making politics in the contemporary era, if we pay attention to the frequent episodes of genocide of black people ongoing still into the 21st century.

ISSN: 1984-8900

DOI: https://doi.org/10.36311/1984-8900.2020.v12n32.p102-112

Texto Completo: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/10644

Palavras-Chave: Racismo, Biopolítica, Necropolítica, Colonialismo, Michel Foucault, Achille Mbembe

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