HANS JONAS E O FIM DA TEODICEIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE DEUS DEPOIS DE AUSCHWITZ

Síntese - Revista de Filosofia v.48, n.152 • Síntese - Revista de Filosofia

Autor: Wendell Evangelista Soares Lopes

Resumo:

O presente ensaio mostra como, a partir de dois eixos de argumentação, um, lógico-ontológico, e o outro, teológico, Hans Jonas, filósofo judeu-alemão, constrói um conceito de Deus que em seu cerne representa conseqüentemente uma base para a expurgação – isto é, o fim – de toda teodiceia. Como se sabe, a teodiceia sempre lançou mão de duas respostas fundamentais: a lógica da cul- pabilidade e a do sacrifício. Estas foram sempre respostas ao problema do mal. Mas o evento de Auschwid romperia em definitivo com tais soluções. Não há motivos para tamanho mal, pois aí não há culpabilidade, nem mártires; trata-se de um acontecimento de magnitude única e incompreensível. Face ao horror de Auschwid, Jonas reflete sobre um mito que ele próprio elaborara inicialmente como resposta à questão da imortalidade, mas que mais tarde ele utilizará para pensar a questão abissal da teodiceia. O que Jonas extrai de seu mito, nesta nova direção, é a ideia de um Deus em vir-a-ser, sofredor, e preocupado. Do “Fundamento do ser, ou o Divino” assim pensado já não se pode dizer que seja onipotente, e uma tal imagem oferece a resposta à questão da teodiceia: de um Deus impotente não se pode mais dizer que é responsável. O resultado não pode ser outro senão o non-sense de qualquer intento de condenação do Divino pela realidade do mal.

Abstract:

This paper shows how from a logical ontological perspective and a theological one, the German-Jewish philosopher Hans Jonas develops a concept of God whose core provides a basis for purging – that is, for pufling an end to – all theodicy. As is well known, theodicy has always resorted to three basic responses: the banality of evil, the logic of guilt and that of sacrifice. These were always answers to the problem of evil. But what happened in Auschwid breaks definitively with those approaches. There is no reason for such evil, because in Auschwid there was no guilt or martyrs; it was an event of incomprehensible magnitude. Faced with the horror of Auschwid, Jonas reflects on a myth that he himself had developed initially as an answer to the question of immortality, but that he will use later to think about the abyssal question of theodicy. What Jonas draws from his myth is the idea of a God who is becoming, suHering, and caring. In this way of thinking, the Divine” can no longer be said to be omnipotent, and such an image of God provides the answer to the question of theodicy: a powerless God can no longer be said to be responsible. The result can be none other than the nonsense of condemning the divine because of the reality of evil.

ISSN: 2173-8379

DOI: 10.20911/21769389v48n152p695/2021

Texto Completo: http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/view/4444/4729

Palavras-Chave: Auschwitz. Teodiceia. Conceito de Deus. Panenteísmo.