ARISTÓTELES LENDO OLAVO DE CARVALHO: DE UMA RETÓRICA ERÍSTICA

Síntese - Revista de Filosofia v.48, n.152 • Síntese - Revista de Filosofia

Autor: Cesar Augusto Mathias de Alencar

Resumo:

Este estudo pretende apresentar uma interpretação acerca da concepção de discurso que explica e justifica a atuação textual e midiática de Olavo de Carvalho, tendo como ponto de partida sua obra sobre a pretendida teoria dos quatro discursos em Aristóteles. A partir da demonstração de que não se trata de uma interpretação decididamente aristotélica, constatamos ser necessário considerá-la como uma reflexão programática de Carvalho sobre certo uso do discurso para fins políticos, que chamo de retórica erística, e cuja intenção se define pelo estabelecimento do saber e do livre debate de ideias como inescapáveis à lógica persuasiva do embate erístico, aquele em que o que conta é vencer o debate sem precisar ter razão. Essa intenção é confirmada pelo cotejo com as obras mais decisivas ao tipo de exercício de poder pretendido pelo autor, e que nos esclarecem sua satisfação em insuflar o impedimento do debate por via dupla: a de forjar, para seus leitores, uma impressão de que possuem a verdade que os situa acima das intelectualidades de todo tipo; e a de, por conta dessa impressão, atomizá-los na verborragia de sua opinião única. O efeito pedagógico dessa retórica erística é imbuir seus alunos de uma missão política, claramente circunscrita ao ódio pelo comunismo e pela verdade enquanto nascida não do silêncio individual, mas do diálogo entre interessados pelo saber.

Abstract:

This paper suggests an interpretation of the conception of discourse that can explain and justify Olavo de Carvalho’s textual and media performance. Its starting point is Carvalho’s own work on the Theory of the Four Discourses, which he claims is Aristotle’s. After demonstrating that it is decidedly not a valid interpretation of Aristotelian thought, we found necessary to consider Carvalho’s work as a programmatic content of his own proposal on the use of discourse for political purposes, which we call eristic rhetoric. His intention is to show that knowledge and the free debate of ideas cannot escape the persuasive logic of eristic rhetoric, for which what counts is to win the debate, without needing to be right. Carvalho’s intention is confirmed by the comparison with other works of his concerning the type of exercise of power that he clearly supports. Such a comparison clearly demonstrates his satisfaction in hindering the debate in two ways: by creating in his readers the impression they possess the truth, placing them above intellectuals of all kinds; and thereby leading them to adopt a sin- gle opinion, characterized by verbiage, that reduces them to mere atoms of the social body. The eHect of this rhetoric of contention is to imbue his students with a political mission that fosters hatred of communism and of the truth. An authentic debate does not originate from the closure in oneself but from the dialogue between those interested in knowledge.

ISSN: 2173-8379

DOI: 10.20911/21769389v48n152p841/2021

Texto Completo: http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/view/4739/4733

Palavras-Chave: Discurso. Política. Aristóteles. Olavo de Carvalho.