A UNIDADE DA FILOSOFIA E A PLURALIDADE DE CORRENTES FILOSÓFICAS: EXPRESSÃO DA POTENCIALIDADE CRIADORA DO PENSAMENTO, PROVA DE AUTODESQUALIFICAÇÃO DA FILOSOFIA OU PROBLEMA SOLÚVEL/INSOLÚVEL?
Síntese - Revista de Filosofia v. 49, n.154 • Síntese - Revista de Filosofia
Autor: Lorenz Puntel
Resumo:
O tema da pluralidade de correntes filosóficas sempre ocupou a filosofia desde seu início. Hoje ele tem uma atualidade extraordinária devido ao fato inegável de que a filosofia está presente em todos os países dotados de uma cultura e língua com caráter supra-regional. Com exceção de alguns exímios filósofos como Hegel e Heidegger, o tópico foi em geral ignorado e/ou é apenas parcial e inadequadamente abordado. O presente ensaio propõe-se elaborar as grandes linhas de uma tematização sistemática deste complexo fenômeno. Na seção 1 é apresentada uma breve caracterização das mais importantes posturas na filosofia atual a respeito da pluralidade de correntes filosóficas. As três posturas, às quais todos os posicionamentos vigentes podem ser reduzidos, são as indicadas no título do ensaio. O resultado de uma consideração crítica destas posturas consiste na tese de que somente a terceira postura, segundo a qual a unidade da filosofia em meio à pluralidade de correntes filosóficas representa um problema solúvel ou insolúvel, pode ser considerada uma concepção coerente e bem fundada. Tal posicionameno, porém, não exclui a aceitação de certos elementos da primeira e da segunda posturas. Na seção 2 são delineados os fundamentos para uma solução positiva do problema. Estes se centralizam no conceito de quadro referencial teórico com a tese subsequente de que existe uma pluralidade de quadros referenciais teóricos. Na seção 3 vem exposto o esboço de uma solução positiva, resultado da tematização das relações entre os diferentes quadros referenciais teóricos. São apresentadas e fundamentadas três teses. A primeira recorre ao conceito de verdade elaborado na filosofia estrutural sistemática e, nesta base, adquire a seguinte formulação: a cada quadro teórico bem formado e constituído corresponde um determinado grau de verdade. A segunda tese reza: quadros referenciais teóricos bem formados e constituídos formam uma hierarquia a partir dos critérios de teoricidade, inteligibilidade, coerência, abertura temática ilimitada e rigor expositivo. Por fim, a terceira tese articula uma consequência metódica e programática de longo alcance: uma tarefa preliminar e essencial da filosofia consiste em elaborar o quadro teórico de maior rigor teórico, mais inteligível, mais coerente e de maior abertura temática possível. O resultado não consiste na pretensão ingênua de elaborar um quadro teórico supremo e absoluto, nem mesmo o de atingir uma verdade cabal e definitiva. Este não é o ideal da filosofia. Na conclusão, resume-se brevemente o corolário geral das considerações feitas no ensaio: a unidade da filosofia não é uma grandeza fixa, estática e abstrata; ao contrário, constitui uma grandeza dinâmica e processual; além disso, o caráter real da filosofia dá-se somente como um processo de autodeterminação através das suas fases históricas concretizadas nas figuras chamadas de correntes filosóficas.
Abstract:
The topic of the plurality of philosophical currents has always occupied philosophy since its beginning. Today it has an extraordinary actuality due to the undeniable fact that philosophy is present in all countries endowed with a supra-regional culture and language. With the exception of a few great philosophers such as Hegel and Heidegger, the topic has generally been ignored and/or is only partially and inadequately addressed. The present essay proposes to elaborate the broad outlines of a systematic thematization of this complex and large phenomenon. In section 1, a brief characterization of the most important postures in philosophy today regarding the plurality of philosophical currents is presented. The three stances, to which all current stances can be reduced, are those indicated in the title of the essay. The result of a critical consideration of these positions is the thesis that only the third position, according to which the unity of philosophy amidst the plurality of philosophical currents represents a soluble or insoluble problem, can be considered a coherent and well-founded conception. This position, however, does not exclude the acceptance of certain elements of the first and second postures. In section 2 the foundations for a positive solution to the problem are outlined. These are centered on the concept of the theoretical referential framework with the subsequent thesis that there exists a plurality of theoretical referential frameworks. In section 3, the outline of a positive solution is presented, which results from the thematization of the relations between the different theoretical frameworks. Three theses are presented and substantiated. The first one resorts to the concept of truth elaborated in structural systematic philosophy and, on this basis, acquires the following formulation: to each well-formed and constituted theoretical framework corresponds a certain degree of truth. The second thesis states: well-formed and constituted theoretical referential frameworks form a hierarchy based on the criteria of theoreticity, intelligibility, coherence, unlimited thematic openness, and expository rigor. Finally, the third thesis articulates a far-reaching methodical and programmatic consequence: an essential and preliminary task of philosophy consists in elaborating the theoretical framework of greatest theoretical rigor, most intelligible, most coherent, and of greatest possible thematic openness. The result is not the naive pretension of elaborating a supreme or absolute theoretical framework, nor even of reaching a complete and definitive truth. This is not the ideal of philosophy. In the conclusion, the general corollary of the considerations made in the essay is briefly summarized: the unity of philosophy is not a fixed, static and abstract magnitude; it is, on the contrary, a dynamic and processual magnitude; moreover, the real character of philosophy is only given as a process of self-determination through its historical phases, concretized in the figures called philosophical currents.
ISSN: 0103-4332
DOI: 10.20911/21769389v49n154p197/2022
Texto Completo: https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/view/5066/4867
Palavras-Chave: Correntes filosóficas. Unidade da filosofia. Quadro referencial teórico. Verdade, graus de verdade. Teoreticidade, coerência, rigor teórico, processo dinâmico.