Variações experimentais: um estudo sobre a narrativa em A trégua, de Primo Levi

Viso · Cadernos de estética aplicada N° 17 • Viso: Cadernos de Estética Aplicada

Autor: Pedro Caldas

Resumo:

Este artigo pretende contribuir com a discussão sobre a narrativa a partir de uma leitura de A trégua, de Primo Levi. Publicado em 1963, A trégua é o segundo livro de Primo Levi, concluído dezesseis anos após É isto um homem?, e traz uma questão inquietante: por um lado, o livro, ao contar a história do retorno de Primo Levi para sua casa, em Turim, após ser libertado do campo de concentração de Auschwitz, é também uma narrativa de reencontro com a própria humanidade; por outro lado, o autor, no final, admite sua angústia ao reconhecer que o mal de Auschwitz permanecerá para sempre com ele. Portanto, o que muda? Como contar uma narrativa que não elabora uma mudança essencial, mas episódios possivelmente aleatórios? Neste sentido, proponho o conceito de uma narrativa estruturada a partir de “variações experimentais” em torno à experiência de trégua. Formulação retirada de uma das mais marcantes caracterizações do livro, o menino Hurbinek, em cujo nome Levi testemunha, as “variações experimentais” podem ser compreendidas como uma alternativa ao impasse acima entre episódios expressivos e sua relativa incapacidade de gerar alguma mudança significativa no sentido histórico do Holocausto.

Abstract:

This article seeks to contribute to the discussion of narrative based on a reading of The Truce, by Primo Levi. Published in 1963, The Truce is Levi’s second book. It was finished 16 years after If This is a Man, and deals with a disquieting issue: on the one hand, by narrating the story of Levi’s return home in Turin after being liberated from the Auschwitz concentration camp, it is also a narrative of the reencounter with one’s own humanity; on the other hand, in its final lines, Levi admits his anguish as he recognizes that the evil of Auschwitz will remain with him forever. What changes, then? How can one possibly narrate a story without elaborating on an essential transformation, but, instead, by describing seemingly random episodes? In this regard, I propose here the concept of a narrative that is structured based on “experimental variations” around the truce-experience. I borrow this formulation from one of the most striking descriptions of the book – about the boy child Hurbinek, on whose behalf Levi testified. These “experimental variations” can be understood as an alternative to the above-mentioned impasse between expressive episodes and the relative inability to produce a significant change in the historical meaning of the Holocaust.

Texto Completo: http://revistaviso.com.br/visArtigo.asp?sArti=176

Palavras-Chave: Primo Levi, A Trégua , narrativa , testemunho

Viso: Cadernos de Estética Aplicada

viso s.m. 1 modo de apresentar-se, aparência, aspecto, fisionomia 2 sinal ou resquício que deixa entrever algo; vestígio, vislumbre 3 recordação vaga; reminiscência 4 modo de ver, opinião, parecer 5 o cume de uma elevação, monte ou montanha 6 pequena colina, monte, outeiro 7 obsl. o órgão da visão, a vista. ETIM lat. visum ‘visão, imagem, espetáculo’.