Do detalhe à história: Comentário do texto de Iannini “A psicanálise Freudiana entre ciência e arte”
Viso · Cadernos de estética aplicada N° 19 • Viso: Cadernos de Estética Aplicada
Autor: Bruno Guimarães
Resumo:
Além do comentar o texto de Iannini sobre a convergência entre a atitude científica e o pensamento estético na escrita de Freud, o objetivo desse artigo é questionar a suposta confiabilidade de um critério meramente positivista de cientificidade na fundamentação do trabalho psicanalítico. Em um primeiro momento, acompanhando alguns de seus comentários estéticos, escritos sob o anonimato no seu ensaio sobre o Moises de Michelangelo, veremos como Freud admite que o método para o reconhecimento da autoria das obras de arte, desenvolvido pelo médico italiano Giovanni Morrelli, exerceu considerável influência sobre ele, antes mesmo da descoberta da psicanálise. Este método consistia na observação de detalhes singulares periféricos das obras de arte, do mesmo modo como a psicanálise dispensaria atenção a traços pouco notados e coisas secretas para lançar luz sobre o inconsciente. Mais tarde, esse mesmo método teria sido atribuído também ao tipo de investigação levada a cabo pelo Sherlock Holmes de Conan Doyle, ao ser batizado por Carlo Ginzburg de paradigma indiciário, ou método presuntivo. Em um segundo momento, entretanto, recusaremos essa mesma tradição sherlockiana, ao sugerir que a atitude científica de Freud deva ser reconhecida mais na lisura de seus procedimentos investigativos e na retidão intelectual, que o levava a reconhecer limitações e as falhas de toda a investigação, do que na resolução definitiva de um quebra-cabeças, e aproximaremos nossas análises à leitura hermenêutica e pragmática da psicanálise. Finalmente, tomaremos distância também dessa última, ao mostrar que a persistência da pesquisa arqueológica de Freud sobre o sentido dos sonhos, dos sintomas e dos distúrbios de memória para melhorar a dinâmica do tratamento aproxima a psicanálise da perspectiva materialista de Benjamin, que recusa a noção de tempo finito e fechado e linear, em apoio a uma concepção não progressista, positivista e desenvolvimentista da história.
Abstract:
By commenting Iannini’s text about the convergence between the scientific attitude and aesthetic thought in Freud’s writings, the aim of this article is to question the supposed confiability of a merely positivistic criterion of scientific reasoning in the psychoanalytic works. At first, following some of his aesthetics comments, written anonymously in his essay on the Moses of Michelangelo, we will see how Freud admits that the method for recognising the authorship of an artwork developed by the Italian physician Giovanni Morrelli played considerable influence on him, even before the discovery of psychoanalysis. This method consisted on the observation of peripheral singulars details of a unique work of art, just as psychoanalysis dispense attention to little noticed features and secret things to shed light upon the unconscious. Later, this same method would also have been assigned to the type of research carried out by Conan Doyle’s Sherlock Holmes, by being baptized by Carlo Ginzburg of evidential paradigm, or presumptive method. In a second moment, however, we’ll refuse this same sherlockian tradition by suggesting that Freud’s scientific attitude should be recognized more in the good faith of his investigatives procedures and intellectual rectitude, which led him to recognize limitations and flaws in all research, than in the final resolution of a puzzle, and we will approach our analysis to the hermeneutics and pragmatics reading of psychoanalysis. Finally, we will move away also from this last perspective, to show that the persistence of Freud’s archaeological researches on the meaning of dreams, symptoms and memory disorders to enhance the dynamics of the treatment approaches psychoanalysis to the materialistic perspective of Benjamin, refusing the notion of finite, closed and linear time, to support a non-progressive, positivist and developmental conception of history.
Texto Completo: http://revistaviso.com.br/visArtigo.asp?sArti=202
Palavras-Chave: psicanálise ,arte, tradição sherlokiana ,pra
Viso: Cadernos de Estética Aplicada
viso s.m. 1 modo de apresentar-se, aparência, aspecto, fisionomia 2 sinal ou resquício que deixa entrever algo; vestígio, vislumbre 3 recordação vaga; reminiscência 4 modo de ver, opinião, parecer 5 o cume de uma elevação, monte ou montanha 6 pequena colina, monte, outeiro 7 obsl. o órgão da visão, a vista. ETIM lat. visum ‘visão, imagem, espetáculo’.