O giro ético da estética e da política na contemporaneidade a partir de Jacques Rancière

Viso · Cadernos de estética aplicada N° 22 • Viso: Cadernos de Estética Aplicada

Autor: Vinicius Vicenzi

Resumo:

Este artigo pretende pensar o que Rancière chama de “giro ético da estética e da política” (le tournant éthique), isto é, a eticização contemporânea desses campos. Em Malaise dans l’esthétique o filósofo francês pretende mostrar como a palavra “estética” suscita atualmente sempre um certo incômodo, certa animosidade, tomada como um discurso capcioso pelo qual uma certa filosofia teria desviado em benefício próprio os sentidos das obras de arte e dos julgamentos de gosto. Em oposição a isso é que se teriam lançado alguns autores que denunciam certa “confusão” estética e tentam “consertá-la”, como Bourdieu, Badiou e Lyotard. É esse conserto que tende a uma eticização da estética e, com ela, da política. Acusa-se a estética de ser culpada de abrigar o ‘não importa que’ dos objetos de uso e das imagens da vida profana; e, também, de se ter extraviado em promessas falaciosas de um absoluto filosófico e de uma revolução social. Num tempo da arte pós-utópica, portanto, a única salvação, o único Deus disposto a nos salvar, estaria a cargo de uma ética, de uma arte marcada pelas categorias do consenso, isto é, disposta a restaurar o sentido perdido de um mundo comum ou reparar as falhas do laço social. O conceito de comunidade é aqui central para se pensar como a comunidade política é transformada em uma comunidade ética. Se para alguns autores a relação entre essas duas comunidades é de continuidade, para Rancière elas revelam diferenças significativas, regidas pela oposição entre povo e população. Para a investigação que desenvolvo sobre o lugar da educação como questão filosófico-política o “giro ético da estética e da política” é um passo importante para se pensar nas formas contemporâneas de subsunção do espaço político e nas consequências desse processo para a educação.

Abstract:

This article aims to think what Rancière calls “the ethical turn of esthetics and politics” (le tournant éthique), that is, the contemporary ethicization of these fields. In Malaise dans l’esthétique the french philosopher intends to show how the word “esthetics” nowadays gives rise to a certain nuisance, certain animosity, taken as a tricky speech by which a certain philosophy would have diverted artpieces’ senses and taste judgements in its own benefit. Contrasting that some authors, like Bourdieu, Badiou and Lyotard, have denounced a kind of “esthetical confusion” and aimed to “fix” it. It’s this kind of repair that tends to an ethicization of esthetics and, with it, of politics. Esthetics is accused of being guilty of harboring the ‘not matter what’ of use objects and profane life images; and also, of being lost in fallacious promises of a philosophical absolute and a social revolution. In a post-uthopian art time, therefore, the only salvation, the only God willing to save us would be in charge of an ethics, of an art marked by consensuals categories, that is, disposed to restore the lost sense of a common world or to repare social loop failures. Community concept is here central to think how a political community is transformed in an ethical community. If for some authors the relation between these two communities is based on continuity, for Rancière they reveal significative diferences, governed by the opposition between people and population. For the kind of investigation I develop about the place of education as a philosophical political question the “ethical turn of esthetics and politics” is an important step to think about contemporary forms of political space subsumption and also about the consequences of this process to education.

Texto Completo: http://revistaviso.com.br/visArtigo.asp?sArti=246

Palavras-Chave: eticização da estética , giro ético , Dogvill

Viso: Cadernos de Estética Aplicada

viso s.m. 1 modo de apresentar-se, aparência, aspecto, fisionomia 2 sinal ou resquício que deixa entrever algo; vestígio, vislumbre 3 recordação vaga; reminiscência 4 modo de ver, opinião, parecer 5 o cume de uma elevação, monte ou montanha 6 pequena colina, monte, outeiro 7 obsl. o órgão da visão, a vista. ETIM lat. visum ‘visão, imagem, espetáculo’.